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A importância da Supervisão Clínica em Psicologia


Dos inúmeros desafios que são lançados aos Psicólogos ao longo do seu percurso profissional, um deles é sem dúvida a necessidade de investir continuamente no seu desenvolvimento pessoal, na sua formação e no aperfeiçoamento técnico.


A qualidade técnica de um Psicólogo depende da pessoa que é, do seu estilo relacional, da capacidade de se adaptar ativamente a cada paciente, do estudo e aprofundamento de conhecimentos que venha a realizar, da sua experiência profissional e pessoal, e, sem dúvida alguma, da sua capacidade para refletir criticamente acerca das suas intervenções e dos movimentos contra-transferenciais em sessão.


Assim sendo, uma primeira razão para a necessidade objetiva de qualquer Psicólogo realizar supervisão, é o ganho - para si e para os seus pacientes - na reflexão conjunta com alguém que terá mais experiência, sendo por isso uma mais valia inquestionável para a compreensão dos casos e para a boa condução das terapias.


Por outro lado, estando o supervisor - e os colegas do grupo de supervisão, se esse for o caso - posicionados noutra perspetiva, poderão ser uma preciosa ajuda naquilo que refere à análise dos movimentos contra-transferenciais.


O conceito de contra-tranferência - abordado pela primeira de forma Heimann (1950) - foi amplamente estudado por diversos psicanalistas. Atualmente, é mais ou menos consensual a ideia de que o paciente traz à terapia, a sua problemática, por exemplo, através da forma como faz sentir o seu terapeuta, sendo este movimento designado de contra-transferência.


Daqui decorre naturalmente que durante os primeiros anos de prática clínica, o Psicólogo poderá precisar de intervenção do supervisor para compreender estes mesmos movimentos, e saber como usá-los em benefício da terapia (mesmo Psicólogos mais experientes têm importantes ganhos em realizar supervisão e participar em grupos de intervisão).


A Psicanálise Contemporânea é defensora, pela voz de alguns autores, de que a mente do terapeuta está em jogo durante a sessão. Enquanto nos trabalhos clássicos, existia uma mente que era decodificada e interpretada (a do paciente) por outra mente que tinha este papel de analisar (a do terapeuta), atualmente esta ideia já nos faz pouco sentido e revela-se pouco útil em grande parte dos casos. A presença inteira, pessoal e espontânea do terapeuta, é benvinda e fundamental, pois só a partir de uma relação verdadeira, pode surgir uma mudança verdadeira. Na realidade, mais importante do que a descoberta de “verdades” através da interpretação, o que o paciente precisa é de saber que, com ele, está uma mente capaz de pensar e acolher.


“Já não é possível pensar o analista como alguém que decodifica o texto do paciente, fornecendo às escondidas uma conta paralela sobre os significados, mas como um co-autor do tecido narrativo que é construído em sessão com a contribuição criativa de ambos”, Antonino Ferro, 1995.


Assim sendo, é absolutamente necessário que estas dinâmicas emocionais e relacionais entre paciente e terapeuta, sejam alvo de atenção, para que o Psicólogo possa conhecer aquilo que é seu, aquilo que é do paciente, aquilo que é da dupla e o que pode fazer com aquilo que sente em relação a cada paciente seu.


Isto não quer dizer que os movimentos emocionais do Psicólogo devam ser evitados, antes pelo contrário: o bom supervisor é alguém que não impõe soluções mas convida à reflexão, se apresenta como um modelo de flexibilidade mental, abre caminho para diferentes hipóteses interpretativas e diferentes possibilidades de intervir - alertando para possíveis consequências de cada um deles - mas sempre ajudando os seus supervisandos a tirar proveito das suas principais qualidades e a realizar intervenções espontâneas e que lhes façam sentido, pessoalmente.


Texto elaborado por: Doutora Marta Reis, Psicóloga, Psicanalista e Formadora na ForYourMind.

 
 
 

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